quarta-feira, 30 de março de 2011

A outra metade da laranja

  Há uma frase na internet, atribuída por alguns a Woody Allen, que diz que "nos apaixonamos para corrigir nosso passado". Para alguns essa afirmativa pode parecer muito pessimista, pouco romântica, mas acredito que entendo a linha de raciocínio do autor da frase.
Quer queiramos admitir ou não, a união amorosa com uma outra pessoa, de certa forma, nos traz uma idéia de completude, como se o casamento ou união fosse preencher as nossas necessidades emocionais e nos fazer inteiros.
  Acredita-se que os laços familiares são a fonte primária de satisfação emocional. No entanto, na medida em que se emerge de uma infância com sentimentos de desapontamento e rejeição, por exemplo, o romance do casamento acaba se tornando um refúgio, uma promessa de compensações; o bom e velho "quando eu tiver minha família, vai ser diferente". No nível pessoal mais imediato, isso significa que, encontrando-se o parceiro íntimo correto, pode-se curar as feridas deixadas pelo crescimento tanto na família quanto na própria sociedade.
  O fato é que as atitudes que nos fazem buscar o amor, o casamento e a família estão baseadas numa promessa de abundância. Somos ensinados que a família é que vai preencher praticamente todas as nossas primeiras necessidades de amor. Que é melhor dar do que receber, que quando se dá, se recebe mais do que se deu. Essa esperança de reciprocidade pode, muitas vezes, gerar altas expectativas com relação ao outro; expectativas essas que nem sempre estão claras para o outro, já que cada um tem a sua história, seu conceito do que seja a abundância, do que pode dar e do que quer receber. Esperar que a união amorosa, o casamento ou qualquer outro relacionamento a dois, possa nos completar, ressaltar o que há de melhor em nós e preencher vazios trazidos de um passado remoto, é algo que muito provavelmente trará grandes frustrações, além de ser um peso enorme colocado nas mãos do outro.
  É importante que se consiga reconhecer quais são as nossas necessidades, nossos "buraquinhos" (que todos temos). Que feridas ainda doem e são única e exclusivamente nossas e ir trabalhando com elas, (re)conhecendo meios de nos fornecer um autosuporte e proporcionar a nós mesmos boa parte daquilo que precisamos, bem como colocar para o outro nossas necessidades e expectativas. A partir daí, ele irá ponderar se pra ele é possível oferecer aquilo de que precisamos e escolher o que fazer com isso. Ambas as partes da relação estarão cientes do que querem, do que buscam um no outro, de que são seres completos, inteiros, mas que podem sim, crescer, mudar e acrescentar um ao outro. Não é a "outra metade da laranja", mas algo que faz da laranja interia que eu sou, uma laranja mais saborosa.

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