quarta-feira, 13 de julho de 2011

Sinfonia agridoce

Depois de um tempo sem escrever, volto hoje com algo de que já falei em um ou outro post antes, mas mesmo o "repeteco" traz algo de novidade, um novo ângulo, um novo aspecto. Além disso, certos temas parecem necessitar serem revistos volta e meia, cozinhados e digeridos mais lentamente.
Gosto bastante de prestar atenção em letras de músicas. Acho a música um forma linda de expressar sentimentos e emoções humanas que, quando musicados, ganham um sentido único, que ultrapassa as próprias palavras.
Atualmente um trecho de uma música em particular chamou a minha atenção de uma forma diferente. Uma das músicas do (ou da) Legião Urbana diz o seguinte: "toda dor vem do desejo de não sentirmos dor" e foi essa frase que me trouxe aqui hoje.
Como é difícil ficar com a dor quando ela parece. Como é difícil aceitá-la, acolhê-la, entender o que nossa dor nos diz. E é irônico que o próprio desejo de não sentir mais dor acabe por ampliá-la. Negar, fugir ou mesmo se revoltar contra esse sentimento e sensação não muda o fato de que ele está ali, não faz com a dor deixe de existir no mundo. Inclusive acrescenta à equação uma boa dose de frustração pela falta de controle dos acontecimentos e coisas que podem ou não causar dor e desconforto. Então por que continuamos a bater o pé feito crianças birrentas? Se o próprio desejo de não sentir dor traz mais dor e angústia, por que não nos permitimos sentí-la?
E se nos deixássemos sentir mais as coisas (inclusive aquelas coisas que nos despertam sensações desagradáveis)? Se deixássemos de lado nosso julgamento a respeito das coisas que sentimos? Se nos permitíssemos "saborear" (como se saboreia uma comida que nunca se comeu antes, tentando identificar cada ingrediente presente na receita) nossos sentimentos? O que aconteceria?
Que ansiedades, fantasias (digo fantasias porque enquanto elas não acontecem no presente só existem na nossa imaginação), se escondem por detrás dessa resistência em realmente sentir a dor, a tristeza, a raiva e outros tantos sentimentos avaliados como "ruins" socialmente? O que você, leitor, acha que poderia acontecer com você se se permitisse senti-los?
Não é um exercício fácil, não são perguntas fáceis de serem respondidas e mais ainda, assimiladas, compreendidas para além da racionalidade. Mas há que se começar de algum lugar e toda grande jornada, começa com um pequenino passo.