quarta-feira, 2 de março de 2011

Introjeção

Dando continuidade às explicações sobre as interrupções no ciclo de contato, hoje vou falar sobre a introjeção.
Pra que esse conceito fique mais claro, vou começar com um exemplo muito utilizado entre os GT. Quando somos crianças, até uma certa idade, dependemos dos adultos para nos alimentar. Quando o alimento nos é empurrado "goela abaixo", sem que tenhamos tempo e oportunidade para mastigar, sentir o gosto e só então engolir, estamos introjetando o alimento. Ao contrário, quando o ambiente é sentido como confiável e podemos mastigar, sentir o gosto, desde esse momento começa o processo de digestão daquele conteúdo e portanto, ao invés de introjetar, estamos assimilando. A assimilação é o aspecto saudável da introjeção (lembrem que sempre há um aspecto saudável nas interrupções).
Perls diz que "não há nada em nossas mentes que não venha do meio, e não há nada no meio para o qual não haja uma necessidade orgânica, física ou psicológica. Estas devem ser digeridas e dominadas, se quiserem se tornar nossas de verdade, realmente uma parte da personalidade. Mas se simplesmente as aceitamos completamente e sem crítica, baseados na palavra de outra pessoa, ou porque estão na moda, ou são de confiança, ou tradicionais ou antiquadas ou revolucionárias – tornam-se um peso para nós. São realmente indigeríveis. Ainda são corpos estranhos, embora tenham se instalado em nossas mentes. " (A abordagem gestáltica, Fritz Perls, pg. 46 e 47).
Utilizamos a introjeção saudável para nos adequarmos socialmente, por exemplo. Introjetamos que não se anda nu pelas ruas, introjetamos nosso idioma e uma série de outras normas sociais. O conteúdo do que introjetamos é chamado introjeto.
Quando esse processo ocorre fora de qualquer contexto coercitivo, é saúdavel; se, em contrapartida, existe uma coerção por qualquer parte do ambiente, que é incompatível com a necessidade genuína do indivíduo, há uma imobilização. É como se entregássemos nossa identidade nas mãos de outra pessoa. Com o tempo, o que foi introjetado cai na confluência, vira hábito, torna-se não-consciente e passamos a reproduzir comportamentos e atitudes que não condizem com nossas reais necessidades e anseios, mas que parecem ser tão nossas...
Introjetos são todos os conteúdos que sustentam os "deveria" que carregamos vida afora.
Há um tempo atrás estudei sobre a automutilação sob a perspectiva gestáltica. Geralmente, a pessoa que se automutila carrega introjetos do tipo "não posso expressar meus sentimentos, pois serei severamente repreendido" ou "eu mereço ser punido", entre tantos outros. São esses introjetos que fazem com que nesse caso, a pessoa volte sua agressividade, sua tristeza e sua dor contra si mesma; mas isso é assunto para o próximo post...

Qualquer dúvida ou curiosidade a respeito de qualquer um dos temas aqui postados, entrem em contato via email!
Abraços

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