segunda-feira, 28 de março de 2011

Abandono X Sufocamento

Eu gosto de assistir a esses reality shows. Acho o máximo como certas relações e comportamentos que acabam aparecendo ali, têm a capacidade de nos mobilizar tanto. Um dos casos nesse último reality show, é o da mulher desprezada que corre incansavelmente atrás do homem que a despreza, despertando aqui fora, sentimentos dos mais variados (desde a raiva das mulheres que acreditam que ela deveria tomar outra atitude, à simpatia daquelas que já se pegaram agindo da mesma forma, à  aversão dos homens que se identificam com o "perseguido").
Toda essa situação me fez lembrar de algo que eu li certa vez sobre relacionamentos. Em nossas relações, estamos sempre alternando entre a ansiedade de abandono e a ansiedade de sufocamento. Explico: nossa sociedade tem prezado cada vez a independência e autonomia e, ao passo que queremos tudo isso, queremos nossa liberdade e estar no comando de nós mesmos, ainda assim, temos também o profundo desejo de estar ligados a alguém. O conflito surge pois, nos dois extremos, da solidão à união com outros, o ser se sente ameaçado. A separação pode ser ameaçadora, mas assim também a convivência demasiada. Todos estamos sujeitos aos dois tipos de ansiedade, embora algumas pessoas sejam mais vulneráveis ao medo do abandono e outras, ao medo do sufocamento.
Em relações muito próximas e contínuas (seja relação amorosa, amizade, pais e filhos), o problema surge quando a necessidade de um sentido de identidade e a segurança da conexão íntima com o outro, tornam-se divididos. O resultado é que cada movimento que um faz para satisfazer a necessidade específica dele ou dela, esbarra com a ansiedade do outro, que responde com reações que aumentam os sentimentos do primeiro, de ser despojado ou esmagado. Ou seja, quanto mais aquele que tem a ansiedade de abandono (caso da participante do reality) tenta aplacar sua ansiedade indo em busca de carinho, atenção e afeto daquele que tem ansiedade de sufocamento, mais ele se afasta, e mais a ansiedade de abandono do outro aumenta. É como se uma das partes da relação carregasse uma bandeira dizendo "nós" e a outra parte carregasse uma bandeira dizendo "eu". E esses papéis podem muito bem se inverter, assim que um deles deixa sua ansiedade momentaneamente de lado.
Quando duas pessoas, devido a suas ansiedades, não são mais capazes de reconhecer, um no outro, seres completos, mesmo que imperfeitos, que têm genuína afeição um pelo outro e a capacidade de mudar, graças aos contatos um com o outro, o relacionamento está fadado ao fracasso, ainda que dure por anos a fio. As pessoas não podem mais se ver inteiramente ou com discriminação, e a fome emocional predomina. A intimidade floresce apenas quando nela se reconhece que ambos os indivíduos têm necessidades fundamentais de autonomia e de intimidade.

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