quarta-feira, 18 de maio de 2011

"Vai por mim"

Um amigo o procura pra falar sobre alguns problemas e dificuldades que está tendo. Enquanto o ouve, automaticamente você vai dando interpretações pras coisas que está ouvindo, analisa a situação do seu jeito e devolve para ele com alguma sugestão, conselho ou ponto de vista. Todos já passaram por uma situação assim. O contrário também acontece; você procura alguém para falar sobre suas dúvidas, inquietações e quase sempre, vai ouvir uma opinião ou conselho em troca. Às vezes a "ajuda" nem é solicitada e vem mesmo assim, na forma de "eu só quero o seu bem", "falo isso pra te ajudar", "acho que você deveria fazer assim (ou assado)".
Aprendemos com isso duas coisas que estão tão impregnadas em nossa cultura, que mal nos apercebemos:
- pensamos saber o que é melhor pro outro;
- acreditamos que o outro sabe o que é melhor para nós.
Quem nunca ficou incomodad0 - para dizer o mínimo - de ver alguém querido fazer algo que, de acordo com o nosso julgamento, é danoso ou errado? Quem nunca ouviu dos pais, familiares e amigos "ordens" (às vezes veladas) do que fazer, pois "eles sabem o que é melhor pra você, são mais experientes e só querem o seu bem"? Não raro, quando algo dá errado e nos frustramos, ainda ouvimos um "eu te avisei, mas você não me escuta..." e vamos reproduzindo isso. Compramos a idéia; acreditamos, lá no íntimo, que o outro sabe mais de nós do que nós mesmos, que ele tem as respostas, que saberá o que é melhor para nós.
Somos, ao mesmo tempo, oprimidos e opressores. Por não estarmos em contato, integrados com nossas necessidades, com aquilo que nos pertence e a ninguém mais, invadimos os limites alheios com nossos julgamentos e verdades, bem como somos atropelados em nossos limites pelos julgamentos dos outros.
Quantas e quantas pessoas procuram a terapia esperando que o terapeuta lhes diga o que fazer, que decisões tomar, como agir. E qual não é o tamanho da frustração quando não lhes damos essas respostas...que bom que não lhes damos as respostas! Sinal de que acreditamos na total capacidade do nosso paciente de fazer as escolhas que lhe façam sentido; para ele, não para mim, terapeuta. Caso contrário, somos apenas mais uma pessoa a dizer que sabe mais dele do que ele mesmo; somos mais um opressor.
Para quem quiser refletir mais a esse respeito, outro post que aborda essa questão por um outro viés está aqui.


2 comentários:

  1. ler e se ver, se enxegar, se rever, a função desse blogg se não é necessáriamente ou tão somente essa, vem tendo exatamente essa serventia na minha vida, muito bem escrito, as idéias, conceitos, exemplos bem amarrados... orgulho dessa psicóloga, parabéns pelos textos, pela idéia, enfim, pelo blogg... sucesso

    Gustavo Fonseca

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  2. Muito bom!

    Parabéns pelo post e por todo o blog.

    Beijão Aline,

    Fralda

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