quarta-feira, 9 de março de 2011

Retroflexão

Depois dos dias de folia do Carnaval, é hora de voltar ao trabalho! O conceito desta quarta-feira de cinzas é a Retroflexão. Como tudo para nós, gestalt-terapeutas, a retroflexão guarda em si um lado funcional e um lado disfuncional. Vamos a eles!
A retroflexão funcional ocorre quando o indivíduo reconhece sua necessidade e ele mesmo a satisfaz; ou quando ele (ao identificar sua necessidade) reconhece algo ameaçador no meio e contém sua ação de forma saudável, pois se for ao meio pode se prejudicar. No sentido disfuncional, retroflexão significa “voltar-se rispidamente contra"; na retroflexão disfuncional a energia não está disponível e mesmo que o meio ofereça oportunidades de satisfazê-la ela se volta para a própria pessoa.
Perls usa um exemplo de uma mãe e dona de casa tendo um dia de cão, para explicar a retroflexão. Na situação, a máquina de lavar quebrou, o técnico não apareceu, o filho rabiscou as paredes da casa e o marido chega atrasado para jantar e essa mãe sente que poderia matar alguém (quem de nós nunca se sentiu assim?). Nesse caso, não seria sensato que ela matasse o próprio filho ou marido, ou que cortasse os próprios pulsos. Então, ela delibera por acalmar-se e não fazer nada a nenhum dos dois, já que as conseqüências seriam muito piores se ela seguisse seu impulso homicida. Num primeiro momento, esse é um ajustamento criativo, funcional. Mas, se o comportamento de reprimir a raiva, frustração, fúria, ou qualquer outro sentimento, se repete com freqüência e em situações diferentes, torna-se um hábito , passa a ser um ajustamento neurótico, pois não está em contato com a situação presente e nova.

A energia de raiva, fúria (no exemplo citado), ao invés de ser investida no meio, volta-se contra ela mesma. Ou seja, o corpo torna-se o objeto final de agressão devido a um processo de inibição crônico que foi esquecido (olha a confluência aí) e assim é mantido.
No ajustamento retroflexivo a pessoa faz consigo o que gostaria de fazer aos outros. Quando alguém retroflete um comportamento, trata a si mesmo como na verdade gostaria de tratar outras pessoas ou objetos ou como gostaria que os outros o tratassem. Ou, quando o excitamento surge, por sentir o meio como ameaçador, ao invés de confrontá-lo, volta a energia para si mesmo, o único lugar que considera seguro. Deixa de dirigir suas energias para fora a fim de ter aquilo que necessita e coloca-se como alvo do comportamento. 
Um ponto importante a ser colocado, é que a retroflexão geralmente tem por base além da confluência, um introjeto. Nossa cultura predominantemente cristã, por exemplo, que prega o "amar ao próximo como a si mesmo", condena sentimentos como a inveja, a raiva, entre outros; sentimentos estes que fazem parte daquilo que nos torna humanos. O auto-controle é considerado pela grande maioria como algo bom, que todos devem ter sempre. Mas "amar ao próximo como a si mesmo" acaba sendo entendido como amar MAIS ao próximo do que a si mesmo, e acabamos deixando de "rodar a baiana" em situações em que teríamos todo o direito de fazê-lo.

A retroflexão crônica está na origem de muitas (se não de todas) doenças psicossomáticas, como úlceras, gastrites, cânceres (que atingem proporções significativamente maiores naquelas pessoas muito controladas, que não manifestam explicitamente suas emoções).

Fica aí a dica, então! Expressem-se! Sem vergonha, sem medo de assumir seus sentimentos, sejam eles "bons" ou "ruins". São esses sentimentos que nos tornam singulares e humanos. Expressá-los, ou melhor, admitir que eles estão ali, que existem, permite que possamos escolher o quê fazer com eles!

13 comentários:

  1. Muito bom, estava com dificuldade para entender esse conceito, agora ficou claro. Obrigado!

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  2. OBRIGADA tenho um seminário para apresentar amanhã e não tava entendendo o conceito! salvou minha vida, muito bom!!!

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  3. Bem interessante. Grato pela contribuição!

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  4. Não necessariamente o pensamento leva o paciente a pensar desta forma,se pode interpretar de outra forma, ame ao próximo como a se mesmo, então, ame-se!

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  5. rodar a baiana kkkkkkkkkkkkkk parabéns

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  6. Entendo exatamente.Pois convivo com uma pessoa retroflexiva.

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  7. O que fazer para que essas pessoas faça um tratamento? Pois não consigo convencer. A pessoa acha que está sempre certa, e deixa de conviver com pessoas que as amam, mas que tem pensamento divergente.

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  8. Que maravilha! Ótima explicação!

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