quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A dor e o acolhimento

Todos nós nascemos com um sentido de equilíbrio social e psicológico e buscamos estar em acordo com as nossas necessidades pessoais e as demandas que advém da sociedade. A neurose se manifesta quando o indivíduo e o grupo (família, estado, círculo social, companheiros de trabalho) vivenciam necessidades diferentes e ele não consegue identificar qual é a dominante (a sua ou a do meio). Nesta situação de conflito, ele precisa tomar uma decisão clara do que precisa fazer (e assumir as conseqüências por sua escolha). Nesse sentido, a neurose vem da incapacidade do indivíduo encontrar e manter esse equilíbrio entre ele e o resto do mundo, entre os seus interesses e os dos outros. É como se os limites do meio o “atropelassem” e a forma que ele encontra de se defender desse mundo esmagador é a neurose. Por isso, para os gestalt terapeutas, mesmo as psicopatologias, guardam em si um lado saudável, pois demonstram a forma que o indivíduo encontrou de se defender e sobreviver às situações e vivências que julgou/julga ameaçadoras.
Para Spangenberg (1996), "a neurose é uma resposta estereotipada, como a da árvore que cresceu num lugar de muito vento; sua inclinação é um esforço feroz para sobreviver a essa situação, é sua melhor e única resposta. No entanto, continua inclinada mesmo nos dias calmos, pois ficou congelada em sua posição de sobrevivência, de resistência, de combate".
                                                        
Resistir, para a GT, significa defender o limite além do qual não se sabe o que fazer, nem o que ser. As pessoas resistem à medida em que "vivenciam" uma ameaça à sua identidade e é justamente por esse motivo, que entendemos que todo sintoma está a serviço de algo, que toda patologia é, de certa forma, a resposta mais saudável que aquela pessoa consegue dar no momento. E quando um sintoma causa dor, desconforto e impedimentos que levam alguém a buscar ajuda, é justamente quando o potencial para a mudança está mais "à flor da pele". Tudo nessa pessoa, está pedindo pra que a gestalt seja fechada e que uma nova configuração seja formada. Na própria biologia, a dor é encarada como algo saudável, pois é o que nos dá o aviso de que algo não está bem, algo está demandando cuidado, carinho, preservação.
Por isso, em terapia, é imprescindível o acolhimento do cliente em sua dor, seu sofrimento. Seus motivos de sofrimento são encarados por nós, terapeutas, como extremamente válidos, já que aquele sofrimento, pra ele, é terrivelmente real e é, ao mesmo tempo, o melhor que ele tem podido fazer até o momento. Foi a melhor resposta que ele soube/pôde dar pra conseguir seguir adiante e sobreviver. É justamente o fato de essa resposta não estar mais sendo suficiente, e de haver no cliente muito mais capacidade e potencial do que ele mesmo consegue se dar conta no momento, que faz doer. E é no sentido de ajudá-lo a acessar essas novas respostas e potenciais, que nós, gestalt-terapeutas, iremos atuar. Sempre oferecendo o suporte e acolhimento que essa pessoa não sente estar recebendo do meio.



Referência da citação: Spangenberg, A. – Terapia Gestáltica e a inversão da queda. São Paulo: Paulinas, 1996.

2 comentários:

  1. A leitura destes textos me ajuda a entender muito do papel da gestalt. Adorei

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  2. Boa noite! Muito rico, ajuda a entender que a Gestslt terapia,.ela ver o indivíduo como um.todo!

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