Hoje eu vou dar uma pausa nos conceitos propriamente ditos da GT, e vou falar sobre algo que também dá base pra muitas das coisas que a gente vê em terapia e que os pacientes trazem com muita frequência, das mais variadas formas.Todos nós temos a total capacidade de escolher e discriminar as coisas que nos fazem bem, que nos são necessárias. Todos nós nascemos com o potencial e capacidade de usar nossa sensorialidade pra nos orientar no meio, no mundo. É essa sensorialidade que muitas vezes nos aparece como um "feeling", uma intuição em relação a determinadas pessoas ou acontecimentos - "fulano está me enrolando", "acho que eu não devo falar sobre certo assunto pra tal pessoa", e por aí vai.
O problema é que da mesma forma que todos nós nascemos com essa perfeita habilidade, todos nós fomos (e continuamos sendo ao longo da vida) desconfirmados naquilo que sentimos. Quem nunca ouviu ao menos uma vez, quando criança, um "não foi nada" depois de cair e se machucar e estar sentindo dor? Claro que foi alguma coisa! Tudo em nosso corpo diz que foi alguma coisa e que está doendo! Não é por maldade que ouvimos isso de nossos pais, avós e cuidadores em geral. Eles também já ouviram isso. Mas em geral, as pessoas se sentem aflitas com a dor alheia, é desconfortável lidar com ela, acredito que talvez seja porque de certa forma, a dor alheia as faça lembrar das suas próprias dores. E aí na tentativa de ajudar, vamos desde cedo, ensinando a criança que ela não pode confiar naquilo que sente. Que o tombo que ela levou e que doeu, não foi nada; que ela precisa comer quando lhe dizem, ainda que não esteja sentindo fome ou vontade de comer.Situações assim vão se repetindo durante toda a nossa vida.
Somos constantemente interrompidos, atropelados em nossos limites, desconfirmados nas nossas sensações e sentimentos (pois acreditamos, quando crianças, que nossos pais sabem mais do que nós. São eles os nossos modelos de aprendizagem) e nos tornamos pessoas inseguras. Essa habilidade de saber (no sentido mais amplo da palavra) das nossas coisas ainda está ali; a "intuição" ainda vem, mas nós mal nos apercebemos dela, nos tornamos "dormentes". Perls tem uma frase que é "esqueça sua razão e recupere os seus sentidos" que quer dizer justamente que precisamos recuperar a crença nossa capacidade inata de cuidar de nós mesmos, de reconhecer nossas próprias necessidades e sentimentos e ir ao meio em busca de formas de satisfazê-las. É recuperar a confiança de que nós possuímos a nosso alcance tudo aquilo de que necessitamos, justamente porque nosso corpo, nossa percepção nos mostra isso com uma maravilhosa exatidão.
E por hoje é isso! Espero que esse post ajude alguém (ou alguéns) a recuperar seus sentidos!
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