Renunciar ao
controle das coisas e situações talvez seja das coisas mais difíceis a se
fazer. O controle nos dá a (falsa) sensação de segurança, de que não estamos
tão vulneráveis; nos dá a sensação de previsibilidade, como se sempre
soubéssemos das possibilidades de resultado ou desfecho de alguma situação.
Analisar as
possibilidades e riscos das situações antes de fazer uma escolha é um movimento
saudável, funcional, que é imprescindível para nossa sobrevivência e
auto-preservação. Esta análise “pré-envolvimento” nos ajuda a, quem sabe,
minimizar os riscos de algo que nos pareça um prejuízo. No entanto, a partir do
momento em que fazemos uma escolha, quando decidimos nos envolver e comprometer
com alguma situação, o controle sai de nossas mãos e é preciso confiar. E como
é difícil, nos dias de hoje e na sociedade em que vivemos, confiar.
Partimos
então, para o lado disfuncional do controle. Em Gestalt-terapia, esse
ajustamento neurótico (disfuncional) tem o nome de Ajustamento Egotista: quando
toda e qualquer situação nova, surpreendente ou imprevista é recebida com
verdadeiro terror. Para as pessoas “presas” nesse ajustamento, tudo gira em
torno do controle. As variáveis são analisadas incessantemente, sem que haja
envolvimento na ação. O medo dos riscos e do que é imprevisível, é tão
aterrador que a pessoa paralisa. Apega-se somente àquilo que acredita que pode
controlar. Consequentemente, isola-se das pessoas e as relações interpessoais
ficam seriamente comprometidas, afinal, como se relacionar verdadeiramente com
um outro que introduz uma gama infinita de variáveis na equação, simplesmente
por ser um ser humano diferente?
É muito
importante ressaltar que na grande maioria das vezes, esse padrão não é
consciente para quem dele faz uso. Nossa cultura valoriza o controle das
coisas, das pessoas, como sendo algo que traga sucesso pessoal e profissional.
Quando alguém se exalta por algo, diz- se que está “descontrolado”, que é
importante ter auto-controle. Somos ensinados a querer e buscar isso. Como
então, confiar? Como aceitar nossa fragilidade e vulnerabilidade humanas diante
de certos fatos da vida? Como nos engajarmos de corpo e alma nas situações e
relações, aceitando o risco de que a partir do momento que existem outras
pessoas no mundo, tudo é imprevisível, tudo é novidade?Como recuperar o fluxo
saudável que um dia tivemos, acerca de nossas escolhas e de como nos engajamos
na vida?
Sempre digo
que identificar o que acontece é o primeiro passo para qualquer coisa. Saber da
sua (da nossa) própria necessidade de controle, e começar a perceber os ganhos
e os prejuízos que ela nos traz. Sim, é tranquilizador poder prever o desfecho
das situações antes de se envolver com elas ou não; dá a sensação de poder e
força. Ao mesmo tempo, nos paralisa diante de muitas situações, nos isola do
mundo e da vida, não permite que haja trocas, que haja renovação e crescimento.
Corremos o risco de quebrar a cara? Sim. Corremos o risco de sair no prejuízo?
Também. Mas invariavelmente, o crescimento e aprendizado virão. E com eles, uma
série de outras experiências valiosas e bem-sucedidas.