quarta-feira, 18 de junho de 2014

(Des)controle-se

Renunciar ao controle das coisas e situações talvez seja das coisas mais difíceis a se fazer. O controle nos dá a (falsa) sensação de segurança, de que não estamos tão vulneráveis; nos dá a sensação de previsibilidade, como se sempre soubéssemos das possibilidades de resultado ou desfecho de alguma situação.
Analisar as possibilidades e riscos das situações antes de fazer uma escolha é um movimento saudável, funcional, que é imprescindível para nossa sobrevivência e auto-preservação. Esta análise “pré-envolvimento” nos ajuda a, quem sabe, minimizar os riscos de algo que nos pareça um prejuízo. No entanto, a partir do momento em que fazemos uma escolha, quando decidimos nos envolver e comprometer com alguma situação, o controle sai de nossas mãos e é preciso confiar. E como é difícil, nos dias de hoje e na sociedade em que vivemos, confiar.
Partimos então, para o lado disfuncional do controle. Em Gestalt-terapia, esse ajustamento neurótico (disfuncional) tem o nome de Ajustamento Egotista: quando toda e qualquer situação nova, surpreendente ou imprevista é recebida com verdadeiro terror. Para as pessoas “presas” nesse ajustamento, tudo gira em torno do controle. As variáveis são analisadas incessantemente, sem que haja envolvimento na ação. O medo dos riscos e do que é imprevisível, é tão aterrador que a pessoa paralisa. Apega-se somente àquilo que acredita que pode controlar. Consequentemente, isola-se das pessoas e as relações interpessoais ficam seriamente comprometidas, afinal, como se relacionar verdadeiramente com um outro que introduz uma gama infinita de variáveis na equação, simplesmente por ser um ser humano diferente?

É muito importante ressaltar que na grande maioria das vezes, esse padrão não é consciente para quem dele faz uso. Nossa cultura valoriza o controle das coisas, das pessoas, como sendo algo que traga sucesso pessoal e profissional. Quando alguém se exalta por algo, diz- se que está “descontrolado”, que é importante ter auto-controle. Somos ensinados a querer e buscar isso. Como então, confiar? Como aceitar nossa fragilidade e vulnerabilidade humanas diante de certos fatos da vida? Como nos engajarmos de corpo e alma nas situações e relações, aceitando o risco de que a partir do momento que existem outras pessoas no mundo, tudo é imprevisível, tudo é novidade?Como recuperar o fluxo saudável que um dia tivemos, acerca de nossas escolhas e de como nos engajamos na vida?

Sempre digo que identificar o que acontece é o primeiro passo para qualquer coisa. Saber da sua (da nossa) própria necessidade de controle, e começar a perceber os ganhos e os prejuízos que ela nos traz. Sim, é tranquilizador poder prever o desfecho das situações antes de se envolver com elas ou não; dá a sensação de poder e força. Ao mesmo tempo, nos paralisa diante de muitas situações, nos isola do mundo e da vida, não permite que haja trocas, que haja renovação e crescimento. Corremos o risco de quebrar a cara? Sim. Corremos o risco de sair no prejuízo? Também. Mas invariavelmente, o crescimento e aprendizado virão. E com eles, uma série de outras experiências valiosas e bem-sucedidas.

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