Na última publicação dei alguns exemplos de vivências opressivas que acontecem dentro de nossa própria casa ou nas relações com aquelas pessoas que nos são mais queridas.
À primeira vista pode parecer que coisas assim não têm grande impacto em nossas vidas, mas esse processo gradativo de alienação de nós mesmos, daquilo que somos e gostamos para que sejamos aceitos e amados, é um dos pilares que sustenta nossa “defensividade”, nossa desconfiança, as resistências em geral que criamos para nossa própria proteção.
Se as condições para o “amor” e aceitação incluem a obediência acima de tudo (num sentido bastante amplo) e a renúncia à tudo aquilo que nos traz alegria e que mais amamos, terminamos por nos tornar extremamente hábeis em abdicar de nós mesmos. Para garantir a nossa sobrevivência em meios em que a aceitação e o “amor” são condicionais, não é de se admirar que tenhamos desenvolvido uma capacidade fantástica de perceber o que querem de nós. Nosso princípio de auto-regulação organísmica, já abordado em publicações anteriores nos garante essa capacidade. Basta um único olhar ou gesto de alguém para que uma pessoa sinta vontade de se encolher ou expandir.
Devido ao profundo e arraigado sentimento de inadequação, por não sermos “como deveríamos ser”, temos uma imensurável dificuldade em nos aceitar. Não confiamos em nossos instintos, em nossas, sensações, não confiamos em nós mesmos. Necessitamos constantemente de confirmações externas para garantir um mínimo de auto-estima e auto-confiança.
É muito importante que fique claro que quando falo em opressão e violência, falo de forma muito ampla. Para a gestalt-terapia, todo e qualquer desrespeito à singularidade de alguém é opressão e, conseqüentemente, é violência também. E sempre que alguém achar saber "o que é melhor pra você", "é pro seu próprio bem", há aí um ato de violência; um descrédito na sua capacidade de identificar por si próprio o que é melhor pra você, na sua sabedoria intrínseca e na sua capacidade de seguir adiante. Estamos tão “embotados” e dessensibilizados que pra que consideremos algo violento, sério, digno de se ficar bravo, magoado, triste, revoltado, é preciso que seja algo extremamente grave, físico, palpável. Aprendemos a desacreditar em nós. Nos perdemos de nós mesmos para fazermos parte de um grupo, de um “clã”. E esse processo – perder-se de si, abandonar-se, foi tão doloroso que, para minimizar a dor, em algum momento de nossas vidas decidimos esquecê-lo. Temos uma “sabedoria organísmica” tão grande, que nos dessensibilizamos para podermos seguir a vida adiante, da melhor maneira possível.
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