Estamos acostumados a entender "violência" como agressão física ou
verbal. Muitas vezes a violência acontece de maneira silenciosa, sob o disfarce
do "amor" e "cuidado" de pessoas muito próximas a nós
(amigos, pais, cônjuges, etc).
Violência – também podendo ser
sinônimo de opressão - é prepotência, é quando qualquer outra pessoa julga
saber mais de você do que você mesmo (suas preferências, suas necessidades, o
que é bom ou ruim, o que é válido ou não, o que merece atenção ou não). É
violento quando alguém ultrapassa um limite - seja ele físico ou emocional. É
violento quando não somos reconhecidos em nossa singularidade e quando não
somos confirmados em nossos sentimentos e percepções do mundo.
Desde muito pequenos somos literalmente bombardeados por regras e valores,
somos “consertados”, moldados de acordo com aquilo que um outro alguém espera e
acredita que seja o ideal. A isso muitos chamam de “boa educação” – “é de
pequeno que se torce o pepino”.
Como mencionei em alguns outros momentos aqui, todos nós, sem exceções, nos
auto-regulamos. A auto-regulação organísmica está associada diretamente à nossa
sobrevivência física e emocional. A criança precisa da atenção dos pais,
precisa do afeto dos seus cuidadores. Ela está à mercê dessas pessoas e se para receber esse
carinho, ela precisa ser de um determinado modo, se precisa alienar desejos,
necessidades e características suas, é isso que ela vai fazer. Nos tornamos
seres divididos por termos sofrido esse processo de alienação e negação de
partes nossas quando estas confrontavam as necessidades externas. Nos
abandonamos, por medo de sermos abandonados.
Assim descrita, é fácil notar que a opressão – violência - pode acontecer de
forma muito sutil, "corriqueira". E acontece! Muitos de vocês leitores
(e eu me incluo aqui) não têm a menor dúvida com relação ao amor de seus pais e
aos sacrifícios que eles fizeram pra que pudessem comprar aquele brinquedo que
você tanto queria quando criança, dar uma educação de qualidade, entre outras
tantas coisas que pais amorosos fazem pelos filhos. O que acontece é a que
violência da desconfirmação acontece de forma tão sutil e por pessoas que
durante nosso desenvolvimento são realmente percebidas por nós como deuses,
heróis - aquelas pessoas grandes que nos dão colo, alimento e tudo o mais que
necessitamos pra sobreviver. Quando uma criança quer usar uma determinada roupa
e sua mãe não deixa porque acha feia, porque ela (criança) deve se vestir de
outro jeito, há ai uma desconfirmação. Quando cai, se machuca e chora e os pais
dizem que "não foi nada" é violento. Quando se está de estômago
cheio, mas é preciso raspar o prato pra ser forte, pra que a mamãe e o papai
fiquem felizes, quando a boa brincadeira é aquela que não atrapalha o programa
passando na televisão. Esses são apenas alguns exemplos muito simples do que
acontece.
Como esse é um tema bastante intenso, decidi abordá-lo em doses homeopáticas. Fico por aqui hoje.
Até a próxima!
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