terça-feira, 19 de abril de 2011

O "bicho papão" da terapia

O psicólogo, como outras profissões, ainda é muito mistificado. O senso comum maioritário ainda está impregnado de preconceitos como "quem precisa de psicólogo é louco/depressivo/bipolar, etc.", "terapia é bate papo e blablabla", "não preciso de um psicólogo me dizendo o que fazer", entre outros. Em algumas situações do dia a dia, as pessoas chegam a pensar que nós, psicólogos, possuímos alguma habilidade telepática; ficam tensas, como medo de dizer qualquer coisa e serem "analisadas" e/ou rotuladas. Calma, pessoal!
É compreensível que a terapia possa ser assustadora a princípio. Expor sua vida, seus  problemas e dificuldades, seus sentimentos e pensamentos mais íntimos, que às vezes é difícil até de falar em voz alta sem que ninguém esteja ouvindo, pra uma pessoa estranha é realmente uma fonte de ansiedade. Mas além de todo o sigilo e cuidado que o bom psicólogo tem com seu cliente, cria-se um vínculo entre terapeuta/cliente. Não é algo do dia para a noite, mas que vai sendo construído e inclusive esse vínculo pode ser muito terapêutico à medida que oferece um suporte para a pessoa que busca terapia.
Outra coisa muito importante a ser desmitificada: psicólogo não é coisa de louco, de gente "fraca". É preciso coragem e força pra olhar pras coisas que não estão tão bem em nossas vidas, pras coisas que sentimos, que nos trazem algum tipo de sofrimento ou nos causam desconforto. Em alguns aspectos, terapia é como usar um remédio super ardido na ferida aberta, mas que é esse remédio que vai curar essa ferida. Entretanto, não raro a terapia acontece em meio a gargalhadas, tão necessárias naquele momento.
Além disso, é um cuidado que nós, psicólogos gestalt-terapeutas temos, o de ir até onde nosso cliente sinaliza que podemos ir. Há o respeito, o cuidado com aquilo que o cliente nos traz. Ele é quem trilha o caminho, ele é quem tem a palavra final. Nós o ajudamos a perceber as opções, oferecemos suporte, companhia nessa caminhada, o ajudamos a explorar seus potenciais, suas escolhas. A escuta é uma escuta diferenciada, treinada e, portanto, diferente do bate-papo com o amigo.
Em resumo, a terapia é um lugar onde a pessoa pode se (re)conhecer, crescer, experimentar-se, descobrir novas formas de olhar as coisas, novas formas de lidar com as coisas, tornar-se aquilo que ela é, quem ela é e estar bem com isso. É um processo de enamorar-se por si mesmo.

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