domingo, 17 de junho de 2012

Oprimidos e Opressores

Nas publicações anteriores, vinha falando sobre as vivências opressivas de todos nós. Dando continuidade ao tema, começo o post de hoje afirmando que a “dinâmica” da opressão não se resume a apenas uma das partes (oprimidos ou opressores). Para que ela aconteça, ambas estão envolvidas, influenciando e sendo influenciadas. Até este momento, o enfoque esteve no aspecto oprimido de todos nós, de como fomos educados e moldados pela nossa sociedade e pelo nosso círculo mais próximo para que coubéssemos dentro de certos padrões e expectativas. Alice Miller em seu livro “O Drama da Criança bem Dotada” afirma que “não somos tão culpados quanto imaginamos e nem tão inocentes quanto gostaríamos de ser”. Nossos pais e/ou educadores, que nos criaram e consequentemente nos moldaram e involuntariamente ou voluntariamente nos oprimiram, foram também oprimidos. Também eles foram violados em sua singularidade, também eles sofreram com diversas opressões físicas e emocionais, e foram desconfirmados. Essa é a forma de educação perpetuada em nossa cultura. Aprendemos com os “mestres”. Esta é uma herança passada de geração em geração, inclusive aprimorada com o passar dos anos, acontecendo de forma mais sutil, mais velada e nem por isso menos dolorosa.
As crianças aprendem absolutamente tudo na relação com seu meio, nas trocas com seus educadores. Aprendemos não apenas a falar, escrever, noções de certo/errado e normas sociais, como aprendemos comportamentos, jeitos de ser e funcionar no mundo. Uma criança criada por uma mãe com traços depressivos desenvolve um modo diferente de olhar para a vida do que uma criança que foi criada por uma mãe otimista, por exemplo. Nosso aprendizado é constante e é com base naquilo que aprendemos e vemos nossos educares fazendo, que vamos agir no mundo. Gostei bastante desse vídeo, que ilustra exatamente essa ídeia.
Nada justifica como válidas as violências e opressões pelas quais passamos ao longo de nossa existência. Mas compreender que aqueles que hoje nos oprimem foram também oprimidos e entenderam/aprenderam essa forma de existir e amar como a única possível, dá um significado diferente à essas vivências. Gosto muito desse trecho da música Pais e Filhos, que ao meu ver, fala exatamente disso:
"Você culpa seus pais por tudo e isso é absurdo
São crianças como você 
O que você vai ser quando você crescer..."
Somos todos crianças machucadas por uma cultura opressora, feridas em nossa auto-estima e autoconfiança. Quando crescemos, é esse modelo que reproduzimos, mesmo sem a intenção de fazê-lo.Somos não apenas vítimas desse processo, como  o impigimos aos outros, inclusive àqueles que nos são queridos. Talvez pra muitos de vocês essa afirmação soe pessimista, uma visão fatalista a respeito da educação, de ter filhos, etc. No entanto, é somente a partir do momento que nos damos conta das coisas que nos afetam, que reconhecemos a criança ferida em nós, nossas próprias dores e violências, que podemos começar a olhar para como também a reproduzimos em todas as nossas relações, sem excessão. Talvez ainda assim não deixemos de praticar atos opressores, mas se os reconhecemos, podemos dizer "eu sinto muito, isso é meu e não seu" no momento em que acontecem. E isso, por si só, pode ser incrivelmente restaurador.
 
Segue abaixo um exemplo de vivência saudável e restauradora. Do que, penso eu, todos nós necessitamos: